Em 2000/01 acompanhei uma equipa da Inspecção Geral da Segurança Social no cumprimento de um Plano Nacional de encerramento de lares ilegais, então lideradO pelo Secretário de Estado Rui Cunha. Este plano implicava a implementação de regras de qualidade e de melhoria dos cuidados nos lares existentes e de encerramento dos lares ilegais. A experiência marcou-me para a vida, com um choque brutal impossível de descrever, alertando os meus instintos de solidariedade e reforçando a sensibilidade sobre a necessidade de firmeza e de coragem do Estado na aplicação das medidas sociais.
No dia 7 foram encontrados 4 idosos num lar de idosos ilegal em Almada. Revivi na minha cabeça as memórias dolorosas daqueles tempos: locais indignos para a sobrevivência quanto mais para acolhimento permanente, irresponsabilidade dos prorietários mas também das familias dos utentes, em suma, o retrato triste de um país que se contradiz entre a modernidade e o terceiro mundismo.
Mas das reportagens de dia 7 chocou-me a tranquilidade da proprietária que se diz "de consciência tranquila", e assim parece pousando para as camaras e para os fotógrafos. Chocou-me a sua ideia de uma legalidade moral, superior, que está acima da lei, defendida numa missão esotérica. Irritou-me a presunção da senhora defendendo o indefensável. Mas tranquilizou-me a mensagem clara da Segurança Social explicando que anualmente encerra entre 60 a 80 lares ilegais. Talvez seja uma tarefa dificil de concluir, mas é importante que se mantenha, pelo menos enquanto existir gente que se julga acima da dignidade humana...
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