9 de fevereiro de 2009

O culto das tolerâncias



Lendo e ouvindo algumas opiniões sobre a proposta de Sócrates de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo parece-me existirem algumas reservas sobre a matéria: primeiro há quem aproveite para fazer troça do assunto e ridicularizar quem a defenda; depois quem considere inoportuna a altura para debater o tema; e ainda quem pense que os problemas reais do país são tantos que discutir o assunto agora será desviar a atenção sobre as dificuldades porque passamos. Pois bem, entendo importante dar a minha opinião: Este tema nasce de uma moção política do Secretário-Geral do PS, e não pode ser retirada deste contexto, e sendo o mesmo actual primeiro-ministro e candidato a um segundo mandato, a sua moção representa um pensamento orientador sobre o que pensa do país, o que quer para o país e o que se propõe fazer pelo país.

A sua proposta é um somatório de ideias e de reflexões que entende contribuírem para melhorar Portugal. E o que Sócrates quer com esta nova e progressista norma é projectar o país no espaço da tolerância e de uma moderna e transparente relação social entre os seus cidadãos. Uma nação que se queira justa e solidária, participada e respeitada, deve sempre cultivar as diferenças e afirmá-las como respeito elementar pelas minorias. Um país que queira ser moderno e desenvolvido não pode ignorar realidades ou viver na hipócrita ilusão de que tudo está de acordo com os bons costumes morais. Aliás, os bons costumes morais que nos balizam enquanto sociedade são ainda, e já muito ultrapassados, usos de uma cultura judaico-cristã com séculos, desde o tempo em que a igreja se impunha aos estados. E com um pensamento mais ligeiro perceberemos que tal está ultrapassado.

Não me importa se pessoas do mesmo sexo optam por uma relação. Não me interessa se pessoas do mesmo sexo são entusiastas do casamento. Nem quero saber se as suas relações são felizes. Nada disto interessa ou importa. Porque tem a ver com a vida de cada um. Tal como eu, numa relação heterossexual sou livre de casar e de descasar, de manter uma relação por união de facto ou pontual. Esse é um direito meu como cidadão, e não me sinto capaz de julgar quem pensar de maneira diferente e que nisso queira construir a sua base de vida e de conquista de felicidade. Há uma coisa, que julgo saberem, me faz divergir da moção de Sócrates num ponto específico, e nessa manterei a vontade de defender as minhas convicções, porque essa sim diz respeito à minha vida e à comunidade onde estou inserido. Entendo, portanto, ser mais importante seleccionar e ser crítico nas questões fundamentais, em vez das secundárias.

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