20 de fevereiro de 2014

A PROPÓSITO DA PARTIDA DE FERNANDO TORDO…


 
 
 
 
Porque neste país, tantas vezes mais pequeno que o pedaço de terra onde se funda, é preciso justificar, defendendo, a desesperança, a mágoa, a amargura.
Porque neste país, onde a mesquinhez vive na fraqueza do espirito e da ignorância, é preciso não deixar cair os homens e as mulheres que fizeram muito, tanto tantas vezes, para tornar o disparate livre. E que sonharam outrora com uma liberdade mais pura e limpa do que esta que alguns abusam pela ofensa e pela maledicência.  

É emocionante e repleta de simbolismos a carta de desabafo do filho João ao pai Fernando Tordo. É mais que um desabafo. É um grito de revolta. De mágoa e de tristeza. Não é apenas o filho que escreve, privilegiado. Mas o jovem cidadão, culto, que reconhece a obra e a dimensão do cantor Fernando Tordo.
E deveriam, os que ofenderam a decisão desesperada de Fernando Tordo em emigrar para o Brasil, pensar duas, ou três ou quatro vezes. As suficientes, antes de proferir disparates baratos. Deveriam conhecer o homem e o artista. Entender o significado de um “cavalo à solta” em plena ditadura. E respeitar o valor da cultura. O património dos homens que liga gerações. E gostem ou não gostem Fernando Tordo enriquece a nossa cultura. Torna-a mais tudo e mais de todos. Incluindo daqueles que desprezam a liberdade dos outros.

Porque esses são os que não se importam. São os que se resignaram. Os que aceitam tudo o que de mal é feito a este país: aos cidadãos, aos artistas, aos pensionistas, aos jovens. São os que não querem saber. Os que estão convencidos que os seus mundos não têm fim. São os “novos do restelo”. Um género de civismo incólume. Na arriba. Sempre de olhar superior. De dedo apontado.
Tenho pena que o Fernando Tordo tenha partido. Por necessidade. Por sofrimento. Por cansaço. Tenho pena que mais de 200 mil portugueses tenham partido nos últimos dois anos. Tenho pena. E Portugal deveria ter vergonha de “empurrar” os seus… Mas pelos vistos há quem não sinta a perda de ninguém.

2 comentários:

  1. Desculpa lá, Jorge, um gajo que recebe 200 euros de reforma, quanto é que descontou durante a sua vida de artista (quantas centenas de milhar ganhou?). Um gajo de esquerda deveria ser mais solidário para com o sistema de segurança social. Mas este, como muitos outros, não são mais do que sortudos do sistema que combatem. Quantos emigrantes, mais pobres do que o Tordo tiveram direito a Tv's no aeroporto? Foi-se? Quantos filhos não tiveram direito a desabafar? touradas houve muitas. Deram cavalos à solta e coisas assim. É o sistema.

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  2. João, um país tem de saber reconhecer os seus. E Fernando Tordo merece respeito. Como cidadão e como artista. A sua decisão de sair de Portugal não é nem pode ser motivo para o achincalhar. Não escrevo sobre o que ganhou na vida, nem sobre a sua conta bancária. Escrevi porque este é um exemplo do desalento dos portugueses em relação a Portugal, como referi sobre os 200 mil portugueses que saíram nos últimos dois anos. E o que é mais grave é que quem governa não vê nisso um drama. Mais parece um alivio. Para mim isto não tem a ver com as opções políticas de cada um, mas com as opções políticas de quem ignora o que está a acontecer. Um abraço. :)

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