25 de janeiro de 2011

A LUCIDEZ DAS COISAS PEQUENAS

Há tanta gente que fala por falar, tantas vezes destruindo sem perceber que o faz. São arautos de uma desgraça permanente, fazedores de sonhos perniciosos, que se erguem como moralistas e donos da verdade. O que aqui escrevo nada tem a ver com quem decide, ou sequer questiona as motivações, que desconheço! Escrevo sobre e para quem destrói as memórias, quem divide inventando, quem denigre menosprezando. Sobre quem desrespeita aludindo sempre ao que não se tem quando não se tem.

Não tenho nem nunca tive uma relação de convivío com José Filipe Murteira, antigo Director/Programador do Pax Julia Teatro Municipal. E muitas vezes tive com ele divergências de opinião, de visão e de critérios. Mas sempre lhe reconheci respeito pela minha opinião e o seu profissionalismo. Muito profissionalismo. Nada lhe devo e o próprio nada me deve. Muitas vezes critiquei o seu excesso de funções, que considerei ser o seu pecado. E fiquei-me por aí, porque na estética e na arte não vale a pena querer impor aos outros os nossos gostos. Se fosse eu teria feito diferente, muito diferente, muito à minha maneira. E o leitor? Certamente que também o teria feito. As coisas não mudam com as pessoas, mudam com a coragem dos políticos... 

Mas há coisas que me revoltam! Uma meia dúzia de pacóvios, que não conhecem as artes mas que opinam sobre tudo, que não reconhecem a diferença positiva do Pax-Júlia na programação a sul de Portugal, não descansaram enquanto não pressionaram a saída de JFM. Deveria sair? Talvez. Já saiu e isso agora não importa, mas daí a menosprezar o seu trabalho vai um longo caminho. Já não se lembram que o Pax Julia renasceu como fénix. Que marcou o ritmo de uma programação digna e de grande qualidade: cinema, dança, bailado, teatro, performances, música. Tudo para todos os gostos, a maioria das vezes com casa cheia, com produções nacionais, internacionais e (espantem-se!) com criação local! Houve erros? Muitos. Falta de Estratégia? Claro, ainda hoje! E a quem competia as definições? 

Quando falam até parece que com a sua saída abriu-se o caminho para a descida de Deus à terra. E de agora em diante tudo será diferente. Será?! Irrita-me este provincianismo. E questiono-me: e se o novo ou nova programador (a) não tiver o "bom gosto dos criticos de arte"? E de agora em diante as companhias de teatro cá da terra melhoram a sua qualidade? Serão mais profissionais? E daqui para a frente estão criadas as condições para uma estratégia de intervenção cultural séria? Talvez, mas não porque saiu um homem! Somos poucos, muito poucos. E insistimos em dividir, em subtrair. Desconsiderando quem deveriamos saber elogiar. José Filipe Murteira tem mérito. Opções à parte.

2 comentários:

  1. Um sério e oportuno comentário. Sem favores, rigoroso e pondo os pontos nos ii.
    Transcrevi parte no Alvitrando com link para aqui.
    Um abraço

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  2. LG: Obrigado pela referência. Procuro ser isento nas opiniões, nem sempre o conseguirei, mas é um esforço. E de facto irrita-me esta atitude destrutiva e injusta que maltrata as pessoas que servem bem os interesses públicos. Independentemente das opções. Um abraço

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