29 de janeiro de 2014

PRAXE?

A reacção perplexa e muitas vezes irreflectida é típica de uma sociedade que não está preparada para a surpresa. Mas que ao mesmo tempo se deslumbra e se espanta com a sua própria ignorância e desatenção. E aponta desde logo o dedo a alguém com intenção de atribuir responsabilidades, que lamentavelmente cabem a todos.
Durantes décadas todos, cidadãos, familiares, agentes políticos, técnicos, instituições e governantes foram concedendo a um ritual humilhante, estupido e pouco dignificante de gerações com níveis de qualificação e de conhecimento superiores. Um ambiente de culto e de códigos.
Durante esse período a concessão, ou seja o perdão em forma de inércia, permitiu a legitimidade, a normalidade dos actos, dos comportamentos e dos métodos dos “praxistas”.  
E confundir os acontecimentos da tragédia no Meco com a pressa de apresentar soluções e verdades não abona a favor da resolução do problema. O que torna tudo isto uma vontade desesperada de “sacudir a água do capote”. E é inaceitável que fique nos ombros de um jovem a responsabilidade nacional e colectiva de acabar com praxes e de as tornar todas iguais e execráveis. Nem oito, nem oitenta. Sobretudo porque já estará na sua consciência o peso da morte de 6 colegas e amigos. Independentemente do que se possa vir a apurar.
E principalmente porque o problema está nos jovens que aceitam e deliram com estas actividades, mas também está nas instituições de ensino, que embora o neguem, animam este espirito elitista e para-cultural. E, custa-me dizê-lo num momento tão pesaroso, está também nas famílias que ou ignoram o que se passa ou alimentam a ideia do estatuto popular e distinto dos seus filhos no meio académico.
Em suma, gostaria que fossemos mais moderados e sérios a enfrentar o problema. E não modelos da “moda”. Porque não se trata duma “moda”, mas dum problema importante, com efeitos e causas culturais transversais à sociedade.

Sem comentários:

Enviar um comentário