A reacção perplexa e muitas vezes
irreflectida é típica de uma sociedade que não está preparada para a surpresa.
Mas que ao mesmo tempo se deslumbra e se espanta com a sua própria ignorância e
desatenção. E aponta desde logo o dedo a alguém com intenção de atribuir
responsabilidades, que lamentavelmente cabem a todos.
Durantes décadas todos, cidadãos,
familiares, agentes políticos, técnicos, instituições e governantes foram
concedendo a um ritual humilhante, estupido e pouco dignificante de gerações
com níveis de qualificação e de conhecimento superiores. Um ambiente de culto e
de códigos.
Durante esse período a concessão,
ou seja o perdão em forma de inércia, permitiu a legitimidade, a normalidade
dos actos, dos comportamentos e dos métodos dos “praxistas”.
E confundir os acontecimentos da
tragédia no Meco com a pressa de apresentar soluções e verdades não abona a
favor da resolução do problema. O que torna tudo isto uma vontade desesperada de
“sacudir a água do capote”. E é inaceitável que fique nos ombros de um jovem a
responsabilidade nacional e colectiva de acabar com praxes e de as tornar todas
iguais e execráveis. Nem oito, nem oitenta. Sobretudo porque já estará na sua consciência
o peso da morte de 6 colegas e amigos. Independentemente do que se possa vir a
apurar.
E principalmente porque o
problema está nos jovens que aceitam e deliram com estas actividades, mas
também está nas instituições de ensino, que embora o neguem, animam este
espirito elitista e para-cultural. E, custa-me dizê-lo num momento tão
pesaroso, está também nas famílias que ou ignoram o que se passa ou alimentam a
ideia do estatuto popular e distinto dos seus filhos no meio académico.
Em suma, gostaria que fossemos mais
moderados e sérios a enfrentar o problema. E não modelos da “moda”. Porque não
se trata duma “moda”, mas dum problema importante, com efeitos e causas
culturais transversais à sociedade.
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