6 de maio de 2009

Lição de vida

Na primeira edição da nova revista 30 DIAS detive a minha atenção na entrevista concedida pelo Dr. Aníbal Coelho da Costa, médico de Ferreira do Alentejo, lutador pela democracia no período do Estado Novo, ex-deputado e histórico militante e dirigente socialista.

E desta entrevista nasceu-me a imagem do tempo, da serenidade dos homens que passam pelas coisas da vida e que as cultivam como memórias ou como ensinamentos. A mensagem é tão clara como é puro o tom tranquilo de um homem repleto de experiências diversas. Aos 78 anos o Dr. Aníbal Costa revive o passado com a clareza de uma imagem de ontem, não de anteontem, sem tabus e de peito aberto assume a verticalidade dos homens que vivem pelas convicções, com princípios e alicerçados em valores. Em nome do futuro.

Conheci-o há muitos anos quando me filiei no PS, há 17 anos portanto, era na altura presidente da Comissão Política Regional do PS e deputado eleito pelo Baixo-Alentejo.

E apesar do respeito que sempre me mereceu, porque me foi dado a conhecer pelo saudoso Carlos Queixinhas o seu curriculum politico, tive no choque das gerações a dificuldade em aceitar algumas opiniões e pensamentos, que me pareciam na época insuficientes perante os novos desafios. E também outras forças e vontades contribuíram para que nunca tivesse privado com ele no sentido de beber na fonte a sabedoria e a experiência políticas e pessoais, como o fiz com outros camaradas como o eng.º Barriga, o Queixinhas entre outros. E recuando na memória, como se fosse um acerto de contas, no fim de tudo quem perdeu fui eu, por incapacidade e imaturidade.

Muitas vezes – aprendi nesta curta vida – podemos estar perante o homem e continuar a desconhecer a sua dimensão. E é o que sinto relativamente ao Dr. Costa. Por ironia da vida, daquelas ironias positivas que nos fazem crescer e reaver oportunidades, encontro nas páginas de uma revista um pouco daquilo que não tive inteligência para aprender há 17 anos atrás: a dimensão das pessoas não está nas suas palavras nem nos pensamentos circunstanciais, mas sim num somatório de dias e de anos de vida desenhados por actos concretos que nos dão o direito de dizer “Já só me falta morrer!”. E este legado, em forma de esperança, que sai da boca de quem viveu tanto e tão intensamente deve ser um exemplo para mim e para os da minha geração.
Mea Culpa



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